Com apenas 22 anos, Kennedy foi representante do Brasil na final mundial do World Class e eleito o melhor bartender da América Latina.
Topete engomado, terno bem cortado, gravata com nó impecável, lenço no bolso e duas armações Ray Ban — uma de grau e outra escura. Nas mãos, um caderninho preto onde anota suas receitas e experiências etílicas inspiradas na coquetelaria pré-Lei Seca americana e das décadas de 30 e 40.
— São épocas de drinques complexos, bem trabalhados. Beber era uma celebração — diz Kennedy Nascimento, justificando a sua preferência pela fase. — Com o tempo, isso foi se perdendo, até que os anos 90 afundaram o bar com ingredientes artificiais.
Aos 22 anos, Kennedy é o garoto prodígio da coquetelaria nacional: ele representou o Brasil na final mundial do World Class, em agosto de 2015, na África do Sul. A competição foi a maior de todos os tempos, com 56 países participantes, sendo oito da América Latina.
— A minha pouca idade pode surpreender os jurados. Ninguém espera que alguém tão novo faça algo tão ousado — acredita Kennedy, que trabalha em bar desde os 17, sempre com coquetelaria clássica. — Não fui trabalhar por dinheiro ou caí no bar por acaso. Escolhi ser barman.
A paixão pelo ofício é evidente. Mais do que a execução de coquetéis perfeitos, o que mais chama a atenção em Kennedy é a elegância com que manipula seus instrumentos de bar, garimpados em antiquários, brechós e barraquinhas da Praça Benedito Calixto, em São Paulo. Além disso, ele não usa xaropes industrializados .
— Faço quase tudo o que uso no bar: meus próprios bitters, tinturas, suco de tomate, geleia. Só ainda não destilei nada. Ainda...
UM JOVEM SENHOR AOS 22 ANOS
Por causa da profissão, Kennedy dorme tarde, mas acorda cedo para ir à faculdade. Depois de três anos de Educação Física, agora ele cursa Marketing — e diz que tem vontade de fazer mais outras cinco.
Sobre se prefere ser chamado de mixologista, barman ou bartender, Kennedy é simples e pé no chão.
— Sempre fui e sempre vou ser um barman. Mixologista é uma terminologia usada por leigos para diferenciar o barman do dia a dia, da caipirinha, do cara que está fazendo algo diferente — diz. — A palavra barman tem quase 200 anos e agora está sendo explorada como termo de marketing. É triste, né?
Ainda que tenha crescido nos bares que o pai tinha — foram dois, e ele passava as tardes por lá depois das aulas durante a época de escola, Kennedy não é de beber muito, nem qualquer coisa — quando vai a lugares que servem chope e caipirinha, ele sempre dá um jeito de levar uma pocket bottle de uísque ou conhaque.
E o que ele faz para se divertir no tempo livre?
— Saio para jantar com os amigos, fumar um charuto. Às vezes, dá tempo para um kart no fim de semana — fala, como se essa programação fosse comum aos rapazes de sua idade. — Não vejo graça em lugares lotados ou em ir para a balada e ficar bêbado.
Fonte: O Globo
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